"A Graça abunda em filmes, livros, romances e música contemporâneos. Se Deus não está no redemoinho, talvez esteja num filme de Woody Allen ou num show de Bruce Springsteen. A maior parte das pessoas compreende representações visuais e símbolos com mais facilidade do que a doutrina e o dogma."(Brennan Manning, em O Evangelho Maltrapilho)
O Evangelho Maltrapilho. Um livro que ainda não li, mas que já amo só pelo resultado da leitura em algumas pessoas próximas. Posso dizer sem medo de errar que ele é devastador e falo isso com ainda mais certeza depois de ler a citação acima, que por acaso apareceu hoje na minha linha do tempo do Facebook.
O assunto do artigo não é o livro ou a citação, mas o tema que ela trata, o qual pode ser posto através da seguinte problemática: Existe fronteira para a graça de Deus? Na minha opinião sincera e humilde, não existe limites para ação de Deus, consequentemente não existe fronteiras para a graça de Deus, porque, ao meu ver, toda ação de Deus oferece ao homem um favor imerecido.
Mas, se a graça não tem fronteiras, ela pode atuar em qualquer coisa? Exato. A iniciativa da graça é de Deus e ela se espalha prevenientemente no mundo da maneira que ele deseja convidando os pecadores para a santa comunhão e a obra de salvação. Nada pode escapar da ação do soberano amor de Deus e tudo pode servir de convite ao arrependimento, não importa o que isso seja.
Talvez, você querido leitor se assuste com o que vai ler, mas o fato é que a embalagem de um cigarro, uma visita ao prostíbulo podem exercer sobre a alma pecadora um puxão na consciência, podendo levá-lo para longe do pecado. Isso é mérito do cigarro que ele comprou ou do prostíbulo que visitou? Não, o mérito é unicamente da graça de Deus que alcança ainda nos dias de hoje os lugares mais baixos da terra e pode assim convencer um pecador que ali não é o seu lugar.
Todavia, não precisamos descer as condições mais baixas da terra, podemos seguir a recomendação de Manning e ater a visão para os filmes, as músicas, as artes plásticas, os poemas e os livros de literatura que nos cercam, concluindo a partir daí que todos os artefatos culturais podem manifestar a graça de Deus, seja na representação de valores que remontem aos valores do Reino, como é o caso do Senhor dos Anéis, de Nárnia ou do filme A Espera de um Milagre, seja de maneira mais direta remontando ao sagrado de maneira artística como o caso das pinturas, estátuas e ícones da iconoclastia cristã.
Há também a música e esta é especial. Por vezes, poemas cantados por desconhecedores de Cristo acabam por manifestar uma presença maior do que a música cristã contemporânea, assustadoramente comprometida com o inverso daquilo que é o espírito cristão e composta por pessoas que se dizem cristãs. Um exemplo de música secular que mais parece feita por um autor cristão é a canção Lisbon do Angra, que diz:
Senhor, ilumine meu caminho
Preencha estas mãos descuidadas e sem vida...
Oh, os céus estão caindo,
Os céus estão caindo,
Oh, os céus estão caindo, os céus estão caindo
Os céus estão caindo,
Oh, os céus estão caindo, os céus estão caindo
A letra e a canção foram compostas por um ateu e contam a história de um personagem, mas o que me chama atenção é que toda vez que escuto essa música, vejo graça de Deus nela, essa nunca foi a intenção do autor original e talvez ele nem saiba que pessoas vejam Deus em sua música, no entanto, a graça de Deus abunda nela e fala a multidões sobre orações e misericórdia, a música se tornou um hino do heavy metal e acabou por tocar corações e despertar curiosidades sobre Deus em algumas pessoas que conheço.
Isso talvez seja isolado, mas mesmo que assim seja, ainda vale a menção porque Deus olhou para meia dúzia de pessoas e manifestou graça em algo do cotidiano delas, se isso não é amor, não sei mais o que seria. Poderíamos escrever um livro sobre isso e quem sabe eu não escreva um dia, todavia, por agora ficamos com uma pequeno pensamento para refletir, se a graça de Deus não tem nenhuma fronteira e chama prevenientemente todos de diversas maneiras, porque insistimos em dizer que há limites para a ação divina?
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