terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Comentário sobre o Livro Celebração da Disciplina




Não muito tempo atrás, li o famoso livro Celebração da Disciplina do autor Quaker Richard Foster, a obra foi bastante impactante no meio evangélico e logo se tornou um clássico devocional que inspirou diversos movimento, inclusive o Movimento de Convergência. Abaixo deixo minhas considerações, bastante pessoais, sobre o livro  e desde já afirmo: vale a pena a leitura.

Celebração da Disciplina do autor Quaker Richard Foster é um livro desafiador que me apresentou em pouco mais de uma centena de páginas um apelo em forma de manual para a construção de um relacionamento cristão mais profundo.

Através das disciplinas interiores ( meditação, oração, jejum e estudo); das disciplinas exteriores ( simplicidade e solitude) e por fim das disciplinas associadas (confissão, adoração, orientação e celebração), Foster desenvolve um caminho fértil no qual o cristão que se aventurar encontrará um meio para a graça de Deus onde não há espaço para a doutrina da satisfação instantânea, o materialismo e as futilidades que cercam nossa vida tão atrelada ao consumo.

Costurando todas as disciplinas de uma maneira em que fica bastante claro que todas servem umas as outras na interdependência de uma devoção que não está ligada ao indivíduo apenas, Foster atualiza o misticismo cristão e ao meu ver aponta para o caminho necessário da instrumentalização da devoção cristã: a comunidade, onde se deve viver o perfeito amor de Cristo e o profundo deleite de um relacionamento profundo com o Pai.

Falando em disciplinas espirituais, Foster não cai no legalismo, mas enaltece a liberdade; destacando a vida interior não se deixa levar pelo individualismo religioso e na complexidade do seu pensamento, traduzido em linguagem clara, consegue demonstrar que mesmo a solitude serve para valorizar a comunhão. Convidando o seu leitor a praticar com afinco as disciplinas, Foster despertou em mim a vontade de mergulhar nos clássicos; utilizando destes gigantes devocionais e teológicos, ele ensina que a receita para viver uma vida de profunda comunhão se resume a um único desejo: suspirar por Deus.

Em tom de conversa, Foster despista o religiosismo e abraça a religiosidade sadia ao falar que as disciplinas não têm valor nelas mesmas, que são apenas um caminho onde encontraremos o guia. No seu cuidado, ele afirma que o seu livro não trata de lei, mas de graça, não trata de regras, mas de relacionamento. Em minha opinião, percepções devocionais como a de Foster demonstram a diferença entre encontrar a Deus no ascetismo consciente e cristão e perder o contato com Deus no ascetismo inconsciente de quem acha que é cristão.

De todas as disciplinas interiores, a que mais me impactou foi a meditação, pois em um período da história em que pessoas desejam se ver vazias de pensamentos e que são vazias de alma, Foster nos chama para, como nossos irmãos antecessores, um ato de encheção do Espírito de Deus cujo o produto não será uma espalhafatosa manifestação de poder, mas o ato de poder olhar a Palavra de Deus e o mundo ao nosso redor com uma perspectiva graciosa e de gratidão.

As disciplinas exteriores como um todo me chamaram a atenção de maneira profunda nos ensinam como viver com integridade com o outro (simplicidade); como podemos estar verdadeiramente presentes com as pessoas quando estamos com elas ( solitude); como viver com os outros sem manipulação (submissão); e como exercer o chamado diacônico da igreja sendo e distribuindo bênçãos para outros ( serviço).

Faço aqui também uma menção a prática da disciplina associada chamada “confissão”. Sendo, de acordo com Foster, a disciplina da confissão um ato libertador de nós mesmos, ela ressalta o entendimento da igreja como comunidade terapêutica, um corpo que é cuidado e que também cuida.

Apesar da qualidade do livro, Foster me incomodou em algumas passagens no que toca a disciplina da oração, ao afirmar coisas como “a oração é o meio pelo qual movemos o braço de Deus” ou coisas como “Estamos cooperando com Deus para determinar o futuro! Certas coisas acontecerão na história se orarmos corretamente. Devemos mudar o mundo pela oração.” ou ainda quando aponta que ao intercedermos não deveríamos dizer “faça-se tua vontade Pai”, a razão do meu incômodo é que tais afirmações, talvez mal construídas, podem dar margem ao teísmo aberto e também a confissão positiva, comum ao liberalismo teológico e ao neopentecostalismo respectivamente.

Enfim, “Celebração da Disciplina” é um livro proveitoso e desafiador que merece uma leitura séria de todos aqueles que tiverem oportunidade de tê-lo, inclusive, no meu caso, já estou reorganizando meus devocionais e começando a colocar em prática certos preceitos apontados, além de estar em busca das referências usadas pelo autor para que assim possa crescer na graça bebendo da fonte de genuínos pensadores cristãos. 

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