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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Considerações Sobre Nossos Tempos



O tempo é difícil e mais do que nunca nos requer um gesto de fé e profetismo. Não podemos nos calar quando uma parcela da sociedade oprime o povo da terra, roubando-o e usando de violência para com o aflito e com o necessitado ao mesmo tempo que molesta sem razão os estrangeiros (EZEQUIEL 22.29)

Mas, também não podemos compactuar com o profetismo mundano que perde o caminho da dignidade ao desprezar toda a vida. Atos que se colocam como representativos da libertação, mas que também se demonstram como exercícios de violência para com a vida, nada são do que sintomas do coração carente de Deus, uma afronta ao caráter humano de imagem e semelhança de Deus e um sinal de que todos nós caímos da graça divina. ( Romanos 3.23)

Neste tempo, multiplicamos nossas maldades (EZEQUIEL 5.7) e uma grande desesperança se espalhou, Deus pergunta: "é pequena tua prostituição?" (EZEQUIEL 16.20) e o mundo secularizado responde: "o caminho do Senhor não é direito" (EZEQUIEL 18.25), junto com ele, os hipócritas da religião continuam envergonhando o nome de Deus, enquanto veem vaidade e predizem mentiras, não discernindo o que é realmente santo (EZEQUIEL 22.26;28).

Aos cristãos fica então a reafirmação do ministério do Reino. Olhando o pobre e preservando a doutrina, sigamos firmes afirmando que a fé é dom de Deus e que é pela graça de Deus que somos salvos (EFÉSIOS 2.8). Avisando do juízo de Deus, pois Ele mesmo diz aos que pecam, que estará contra eles, executando juízos (EZEQUIEL 5. 8), bem como anunciando que o mesmo Deus que julga é também rico em misericórdia (EFÉSIOS 2.4-7) e que, em seu Filho, garantiu para todos que o recebessem, as incomparáveis riquezas espirituais.

De posse dessas verdades, sigamos unidos, sabendo que o profetismo e o clamor contra toda e qualquer forma de ataque à integridade humana como criação de Deus é uma das muitas obras que nos foram preparadas por Deus de antemão (EFÉSIOS 2. 10). Sabendo disso, tenhamos firmes no nosso coração o amor como paga para todo o mal e a Palavra da Santa como verdade indiscutível e grande consoladora dos desesperados.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Sacerdócio Universal: legado da reforma

Estamos próximos do 3º Encontro Refletindo a Graça o qual terá por tema a Reforma Protestante. Hoje, iniciaremos uma série de posts que tocarão de alguma forma no que discutiremos no dia do evento, a saber o impacto da reforma para a vida cristã. Neste post, gostaria de pensar especificamente uma das contribuições para a espiritualidade individual legada por Lutero: o sacerdócio universal.



O sacerdócio universal dos crentes é um entendimento crucial para a prática da espiritualidade cristã. Recuperado pela Reforma, ele nos dá consciência que é possível o cultivo de um relacionamento particular com Cristo. Não há necessidade de um intermediador que não o próprio Deus para o perdão de nossos pecados ou para que nossas orações sejam ouvidas. Em nome de Cristo, pelo poder do Espírito acessamos a presença do Pai das luzes. O sacerdócio universal nos dá a segurança de que Deus nos ouve. 

Além da certeza de que somos ouvidos, o sacerdócio universal quebrou com a apatia diacônica e com a ausência de proclamação querigmática. Ao operar a desalienação nos cristãos, Lutero e os demais reformadores trouxeram o povo para o seu devido lugar, tanto nos privilégios desse sacerdócio, quanto também no que consta aos seus deveres. Todo o povo de Deus possui autoridade para exercer o ministério profético, a diaconia e também a proclamação querigmática. Como filhos de Deus possuem também o privilégio de serem seus representantes. Tais benefícios trazem também obrigações como a disposição para o trabalho cristão, o bom testemunho e a boa preparação na palavra que é lâmpada para os pés e luz para o caminho. 

O sacerdócio universal reaproximou no que deveria ser reaproximado leigos e ordenados. Despertou em todos os crentes a noção que os dons e os frutos advindos do Espírito de Deus não se restringem a um grupo seleto de pessoas. A igreja é um espaço de intervenção no mundo e a igreja é formada de homens, mulheres e crianças. O testemunho da transformação da graça do Evangelho excede os âmbitos eclesiásticos e os muros litúrgicos e físicos. 

Contudo, parece que é tempo de reaprender ou reviver a reforma. Em tempos de comodismo espiritual, ignorância e exploração, através de uma política eclesiástica pautada no coronelismo, se faz necessário renovar o entendimento sobre o sacerdócio universal. Primeiramente, devemos operar uma autocrítica: o sacerdócio universal nos chama à dinâmica de Deus, que não espera, mas faz. Saíamos do lugar de clientes, tomemos o lugar de servos, instrumentos para a religação. Segundo, é necessário olhar para os lados, constatar a situação, tomar consciência e passar a suar a voz ativamente como polemistas e professores. Haja em nossas práticas e falas uma pedagogia do sacerdócio universal. Diante de muitos lobos e mercenários exploradores, venhamos a afirmar que seu tempo de exploração está no fim, suas presenças não são escadas para o céu. Elas não são necessárias, pois  as ovelhas de Deus conhecem o seu pastor e têm acesso a Ele. 

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segunda-feira, 2 de maio de 2016

A Multidimensionalidade da Missão e a Sociedade ContemporÂnea




Neste texto tenho como intuito discutir brevemente os entraves e aberturas para o labor missionário na sociedade contemporânea levando em consideração a multidimensionalidade da missão da igreja constituída por quatro partes interdependentes – oração, discipulado, educação e oferta e sua relação com um ethos que permeia as relações da nossa sociedade e define o que chamamos de indivíduo. Para isso dividiremos o texto em três partes, onde na primeira discutirei um pouco a minha realidade local como campo missionário, ou seja, a metrópole como palco da evangelização cristã e suas dinâmicas internas, bem como o ethos que a permeia e o indivíduo que nela habita, aqui farei uso da ajuda que pode propiciar a sociologia; na segunda parte trabalharei da melhor forma a multidimensionalidade da missão e por fim tentarei sintetizar em minha conclusão que os entraves e aberturas do campo contemporâneo são na verdade lados de uma mesma moeda, a qual necessita ser abordada a partir de um posicionamento relevante da igreja não apenas na realidade da missão, mas na sua própria constituição como Corpo de Cristo.

O campo missionário: a metrópole

A revolução industrial nos legou um novo modo de viver, a mudança na maneira pela qual os seres humanos produzem os meios de sua subsistência acabaram por transformar, juntamente com mudanças na cultura e demais esferas sociais, toda a ordem social a qual a humanidade era acostumada. As cidades multiplicaram-se, cresceram e tornaram-se o que hoje são, ou seja, transformaram-se com o forjar dos anos, embebecidas pelo espírito inaugurado na modernidade, nas grandes metrópoles. Na contemporaneidade, a maioria dos seres humanos vivem em áreas urbanas, as quais se apresentam muitas vezes como um mosaico do mundo dotado de um ar cosmopolita.
Assim como os aspectos mais amplos da sociedade mudaram, também se modificaram o indivíduo e suas relações sociais. A modernidade abalou a forma como as relações se organizaram dissolvendo estruturas rígidas e concedendo mais liberdade ao indivíduo, neste processo, o mundo tradicional concebido a partir de laços mais próximos e quase que predeterminado a partir do nascimento se extinguiu e hoje na contemporaneidade o que se encontra são círculos sociais ( espaços de interação) que se intercruzam criando uma rede de filiações para os indivíduos caracterizada essencialmente pela diferenças entre elas.
Dessa maneira o indivíduo se configura como aquele que parece distanciar-se dos seus círculos sociais mais próximos e se aproximar dos mais distantes na medida em que estes aumentam; um ser humano cosmopolita que sustenta em sua vida diversos palcos sociais como por exemplo a família, o trabalho, o clube entre outros e que não necessariamente são povoados pelos mesmos membros.
Inaugurado a partir dessa nova configuração de ser humano e também da mudança na realidade mais ampla está um ethos único, o jeito moderno de ser caracterizado pela confiança na ciência, secularismo, ação orientada para os fins e um modo de organização do tempo que tem como principal fundamento sua objetividade através de sua capitalização. Na contemporaneidade, esse ethos tem aos poucos se metamorfoseado e apresentado novas características que se somam ao legado da modernidade ditando um paradigma social da vida cada vez mais individualista.
Na contemporaneidade encontramos, além das características citadas, um ethos centrado em uma concepção da ordem “seja feliz” onde o indivíduo encontra-se paradoxalmente entre a necessidade de ser autêntico e o compromisso da universalidade do bem-estar, calcada em um presentismo que define o prazer, a satisfação de si e a realização própria como prioridades inegociáveis e não só isso mas como disponíveis ao alcance e submetidas ao imperativo do consumo. Neste sentido, o que se constrói na atualidade é um entendimento reificado de bem viver, ou seja, um entendimento de que se pode ir a esquina e comprar aquilo que dará sentido a vida. Em suma, a contemporaneidade testemunha a construção de projetos de vida líquidos, transitórios, modais e descartáveis.
Tendo isso em mente, posso dizer que aquilo que hoje percebo ser o alvo do labor missionário da igreja é um indivíduo e uma sociedade que apresentam um caráter plural, secularizado, multicultural, permeados com um modo de pensar influenciado pelo sistema de pensamento da ciência, hedonista, imediatista e sedento de sentido para vida, no entanto, antes de apontarmos como este palco e estes atores que interagem e que nos serve de cenário e coprotagonistas apresentam entraves e aberturas para a missão da igreja, preciso discutir a multidimensionalidade da missão.

Multidimensionalidade da Missão

A igreja nasce como uma comunidade escatológica e missionária, ou seja, uma comunidade que aponta para um horizonte existencial eterno e que tem por força vital a representação e a proclamação da realidade do Reino de Deus que é agora, mas ainda será consumada na consumação dos séculos. Constitutiva da realidade vital da igreja também é multidimensionalidade da atuação cristã no mundo, nesta multidimensionalidade mais ampla encontra-se outra ligada ao contexto missionário que é definida pela interdependência de quatro aspectos importantes que são: a oração, o discipulado, as ofertas e a educação.
Considerando que o mandato a missão é uma ordenança do próprio Cristo conforme suas palavras em Marcos 16.15-16 e que a realidade da missão atualmente se configura como uma realidade de desorientação e insegurança regada ao atomismo dos seres humanos e sua liquidez nas mais diversas esferas sociais é crucial um entendimento sobre a potencialidade desses quatro pontos e sua participação – fundamental e fundamento- no trabalho missionário.
Destaco ainda que é importante ter em mente que o horizonte missiológico da igreja é maior do que estas dimensões, contudo, considero, como também considera o Manual da Igreja do Nazareno, estes quatro aspectos já citados como a “argamassa” congregacional que reúne uma comunidade de fé em torno desta veia tão importante do horizonte existencial da igreja invisível de Deus. Assim, analisemos estes aspectos brevemente:
a) Oração: Esta é a esfera de atuação mais básica que a igreja pode se envolver e tão essencial quanto qualquer outra. Neste aspecto, a oração do Pai Nosso se demonstra um crucial e elementar ensino para o exercício da integralidade da vivência cristã e portanto da missão. Através dela, aprende-se que em nossas orações, seja quais forem as temáticas, devem ser recheadas sempre de compaixão, adoração, perdão e cuidado, que a missão é um domínio do Reino e que este Reino é escatológico, cósmico, transcendente, mas também uma realidade capaz de vir a estar presente pelo querigma.
b) Discipulado: O discipulado é amizade pedagógica do corpo místico de Cristo, se a oração é o momento de encontro entre o cristão e Deus, o discipulado é o momento de aprendizado mútuo onde o Espírito Santo trabalha, portanto discipulado não deve ser confundido com catequese, que é apenas parte deste processo mais amplo. O discipulado é a realidade de apresentar aquele que está acostumado com um sistema de prioridades descartáveis e de emoções efêmeras, uma nova existência pautada em uma vida conjugada a partir do “nós” e não do “eu” onde se tem por finalidade não mais o descarte da natureza, da vida e das pessoas, mas a valorização dessas coisas como fruto do amor de um Deus que convida todos os seres humanos para a vida eterna.
c) Educação: A educação anda de mãos dadas com o discipulado e talvez seja uma das características da igreja menos trabalhadas da maneira correta. A Bíblia é clara ao dizer que o povo de Deus perece por não ter conhecimento ( Oseias 4. 6) e que é fundamental a meditação e o ensino das Escrituras ( Deuteronômio 6. 4-9), através desses ensinamentos é perceptível que o estudo e a piedade são parte de um mesmo todo que se não estiver presente acabará por trazer como ingrediente da missão- e não só dela, mas do todo da igreja- ou o fundamentalismo acéfalo ou o liberalismo permissivo. Cultivar a educação, portanto, é cultivar a voz da igreja e muni-la das ferramentas que a tornam proclamadora da esperança aos desesperados do mundo, horizonte que é fundamental a feitura da missão.
d) Oferta: De todos o horizonte mais prático da multidimensionalidade da missão e que apesar disso não estar isento de crises. As ofertas para a missão por mais que sejam o aspecto mais prático deste labor apresenta de maneira monetizada a saúde espiritual de uma congregação que não apenas luta espiritualmente e faz sua parte na esfera local, mas também sustenta e propicia aqueles que se prontificaram a estar em outras linhas de frente como agente do Reino de Deus. A oferta revela-se portanto como um medidor da convicção do cristão naquilo que ele acredita e é uma maneira de intervir na realidade dos desesperados do mundo indiretamente através do combate ao pecado da omissão.
Dito isso, agora me focarei nesta parte final a articulação dessa multidimensionalidade e as características do campo missionário que se apresenta a mim e a tantos outros cristãos, a realidade do indivíduo contemporâneo.


Entraves e aberturas para o labor missionário na sociedade contemporânea: o indivíduo e a multidimensionalidade da missão

Como se relaciona as quatro características citadas na sessão acima com o perfil apresentado do indivíduo contemporâneo já apresentado? O que se pode dizer e sustentar de primeira é que essa relação é complexa, pois aquilo que se apresenta como entrave também é abertura já que o mesmo mundo que hoje é permeado de uma pluralidade de perspectivas tem por pré-requisito para isso a defesa da liberdade de expressão em todos os níveis e o cruzamento dessas perspectivas.
Portanto, há uma porta aberta ao cristão e ao seu ponto de vista, entretanto esta mesma porta não se apresenta como uma realidade ingênua, mas crítica, motivada pela descrença e pela dúvida, capaz de colocar a cosmovisão cristã em choque com outras em uma ponderação marcada pelo relativismo. Dessa maneira, a fé precisa ser apresentada de maneira criativa, atuante para além do discurso e do proselitismo religioso, portanto, mais do que nunca crer precisar estar aliado com sabedoria, imaginação e inteligência. Um exemplo claro dessa conduta na evangelização em um ambiente cosmopolita é dado por Paulo em Atenas quando discursa utilizando do altar ao Deus desconhecido ( Atos 17. 22-34)
A igreja precisa abraçar uma visão dupla de finalidades. A igreja é povo de Deus e deve refletir sua ação a partir dos parâmetros do Eterno e a igreja é instituição servidora do mundo sob o crivo deste mesmo mundo, a saúde do Corpo de Cristo depende desse entendimento. Nesta dupla finalidade, a igreja apresenta-se diante do Senhor como a comunidade da misericórdia aos pecadores e se apresenta aos pecadores como a comunidade do amor e da liberdade de um Deus que é justo, soberano, fiel e santo.
Se isto estiver enraizado no ente da igreja, a sua missão no atual contexto tomará ares revitalizados e se apresentará como um exercício das características dinâmicas do Reino de Deus, assim a igreja na união propiciada pela oração, seja aquela feita em comunidade ou aquela que fazemos solitariamente, será empática, intercessora e sensível; no discipulado entenderá que a missão cristã é a construção de uma fraternidade querigmática, pautada na pedagogia do Rabi da Galiléia a qual também é matéria-prima de uma educação cristã capaz de responder de maneira sistematizada as perguntas e as dúvidas de um mundo cético mais sedento À crer e por fim também se apresentará como comunidade ofertante tal qual a viúva dos evangelhos, ou seja, ofertante de tudo que tem, seguindo no momento que for necessário o exemplo do redentor, a doação da própria vida.
Enfim, acredito que se nosso coração estiver edificado sobre tais bases aqueles entraves que se demonstram como abismos, intolerância a religiosidade cristã e violência ideológica nas grandes cidades se não se dissolverem serão atenuadas, pois mesmo a contragosto se tornarão palco do agir dos remidos no seu apontamento À redenção.




BIBLIOGRAFIA

 BAUMAN, Zygmunt. A Arte da Vida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.

DUARTE, Luiz Fernando Dias. Muitas Felicidades! Diferentes regimes do bem nas experiências de vida. In: FILHO, João Freire (org.). Ser feliz hoje: reflexões sobre o imperativo da felicidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010. Cap. 12, p. 239-255.

MOLTMANN, Jurgen. A Igreja no Poder do Espírito: uma contribuição À eclesiologia messiÂnica. Santo André: Academia Cristã, 2013

VANDENBERGHE, Frédéric. As Sociologias de George Simmel. Bauru: Edusc; Belém: EDUPFA, 2005.



terça-feira, 29 de março de 2016

A Encenação Cínica da Teatral Democracia Brasileira: uma opinião cristã




Eu apreendo com Deus que a justiça não deve ser seletiva em seu trato com as pessoas. Teologicamente TODOS são culpados até encontrarem Cristo. E eu aprendi com o estudo da política que o espírito democrático é o espírito da igualdade jurídica e humana, assim TODOS são inocentes até que se prove o contrário e não ALGUNS são culpados até que se prove o contrário,  mas como muitos eventos históricos têm demostrado isso não passa de um ideal que raramente se concretizou, geralmente o que se vê é cinismo cênico, o teatro da democracia.
Atualmente no Brasil, vivemos uma dessas encenações de democracia, uma performance cênica que ilude e se constrói como ilusão para si mesmo e para aqueles que se conformam com o que é dito e não procuram o que realmente está por trás do falado e propagado ( ou seria propaganizado?) . Se algo eu tenho aprendido com a sociologia é que discursos e ações escondem sentidos para além daquilo que expressam nas suas formas aparentes.
Ver a seletividade midiática, uma propaganda da cênica performance, e a construção de uma política antidemocrática deveria ser combustível para indignação de um cristão, mas para a maioria é motivo de júbilo, o que é uma pena. Parcialidade e contínuas demonstrações de manipulação das estruturas democráticas em prol da manutenção da permanência em posições de autoridade de figuras públicas possuidoras de moral e conduta discutíveis não deveriam passar imperceptíveis, todavia a falta de um aflorado senso crítico-político nos leva a aplaudir a impiedade, assim se cumpre novamente as palavras de Deus e nós perecemos por falta de conhecimento, neste caso como atores irrelevantes na discussão de uma política que se não pode  mais ser de todo íntegra, ao menos seja de nossa parte.
Denunciar atos de corrupção de uns e comemorar as discutíveis ações orquestradas  em relação a estes enquanto não se clama e  cobra o mesmo afinco jurídico ou cobertura midiática em relação a casos abarrotados de provas ligados a outras personalidades políticas é no mínimo ser ingênuo, ao ponto de ser manipulado, e no máximo partilhar conscientemente da hipocrisia e corrupção que estes autoproclamados paladinos da integridade tanto professam combater em mais um de seus gestos cênicos de cinismo meticuloso.
Parece que a igreja esquece que redimir o mundo perpassa por algo além da esfera individual, da vida privada, redimir é também a construção de um viés analítico capaz de entender os desdobramentos da injustiça que domina os sistemas humanos. Redimir o mundo é profetismo; é ampliar as visões sendo capaz de bradar e agir de maneira a apontar para além da ilusão do discurso sustentado por quem sempre se beneficiou da miséria da maioria para sustentar um padrão de vida promíscuo socialmente.
Redimir o mundo é também entender que o mundo é pura aparência, mesmo entre quem diz ser bom, porque no fim das contas não há justo sequer e todos definitivamente necessitam de transformação. Redimir no sentido cristão perpassa pela crítica justa. Assim, se é verdade que legado político nenhum santifica um presente que pode vir a ser revelado como corrupto, também é verdade que nada está acontecendo e nem sendo feito desta maneira por acaso e quem hoje condena e se chama de puro está mais sujo do que o mal lavado falado.
O que me parece ser a mensagem por trás dessa peça dramática? Simples. Os opressores temem, essa é a verdade.
A única coisa que tenho por certo é aquilo que sempre tive: a justiça de Deus, a compaixão divina e a igreja andam juntas e esta última deve demonstrar o impacto das primeiras. Neste sentido, afirmo que  há urgência em um tomar uma postura de discernimento, que não se trate como uma defesa religiosa de uma pessoa ou outra, mas se trate como uma defesa da transparência que deveria estar ligada a um sistema que nitidamente está envolto em sujeira e egoismo e que privilegia aqueles que estão desde muito tempo oprimindo o povo.

Enfim, ao meu ver, neste espetáculo vergonhoso é papel da igreja ser luz e sal do mundo e isso requer mais do que panelaços ou críticas rasas a um partido ou atores políticos particulares, envolve articulação com a sociedade civil e movimentos sociais que tenham como finalidade a melhoria da vida dos injustiçados, do povo, que é quem tem perdido nesta história toda. 

Para nós, cristãos, é de suma importância uma crítica capaz de entender que a injustiça está para além das bandeiras e que sustentar a justiça e o espírito democrático é olhar clinicamente para as estruturas de poder e seu uso na manutenção da realidade de pobreza através de ilusões e alienações e saber que elas devem ser mudadas; sustentar a justiça e o espírito democrático é professar a universalidade da dignidade humana por ser imagem de Deus e condenar toda sorte de exploração desumanizante, inclusive aquela que se esconde na cênica da falsa democracia.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Justiça e o Reino de Deus: considerações sobre um teologia da justiça social




O ideal de justiça é uma busca incessante da humanidade da qual nunca escaparemos. Justiça está ligada ao conceito de bem estar, de felicidade propriamente dita. Dentro da história das ideias, muitas são as discussões sobre este ideal, contudo, se alguma das diversas maneiras de pensar justiça tem moldado nosso pensamento, esta maneira é aquela que se encontra enraizada na revolução francesa e nas suas palavras de ordem: igualdade, fraternidade e liberdade. No entanto, aqui cabe uma pergunta ( ou seriam várias?): ainda é relevante este ideal de justiça que alimenta nossa maneira de entendê-la?

Sabemos que a revolução francesa foi fruto do iluminismo, que garantiu direitos civis e foi um dos elementos no palco da história que trouxeram aos indivíduos, das mais diversas camadas sociais, a consciência de sua ação sobre a história, formou-se uma nova ética que objetificou a garantia da igualdade e universalidade dos direitos aos sujeitos de bem. Neste contexto, a felicidade deveria ser repartida, vívida por todos, pois era um bem comum, assim como a justiça requisito fundamental para sua obtenção.

Porém, o decorrer da história demonstrou que o modelo advogado por este movimento tão inovador não deixou de cometer erros e até repetir aqueles que tanto condenava, pois, como diz o sábio bíblico, abaixo do céu não há nada novo, tudo se repete e tudo se resume a vaidade. Assim, mesmo com a proclamação da Declaração dos Direitos do Homem em 1789, que tinha como intento assegurar a universalidade da integridade humana para todos independente do país, povo ou etnia, o projeto humano de uma sociedade do bem estar não escapa da desigualdade.

Loucos, mulheres, homossexuais, criminosos, pobres, negros, enfim, aqueles que estavam a margem e eram considerados como mazelas da sociedade nascida das ideias do iluminismo foram excluídos e com isso a generalidade das palavras igualdade, fraternidade e liberdade se tornaram uma bonita falácia. No tempo da luta por igualdades houve muita gente que não foi considerada dotada dos atributos comuns e naturais para serem consideradas como iguais, dignas da liberdade ou participantes da fraternidade, consequentemente, como humanos.

Infelizmente, esta falácia ainda nos sustenta, limitamos o valor daqueles que estão diante de nós a partir de critérios específicos. Eles são iguais a nós quando possuem os mesmos gostos, a mesma orientação sexual, a mesma religião; eles pertencem a nossa fraternidade quando reconhecemos o nosso mundo, o nosso jeito, no mundo e no jeito deles; e eles só podem usufruir e possuir da mesma liberdade, que nos é cara, se a expressarem da mesma forma, notadamente no ato de consumo, que é atualmente atestado de liberdade. Hoje, como os burgueses do século XVIII, mas de uma maneira diferente, vivemos professando igualdade universal, mas instantaneamente excluímos aqueles que não estão dentro de nossos critérios particulares.

Existe saída para a parente inevitável seleção de particularidades dentro do discurso de igualdade? Acredito que sim e as políticas de afirmação de minorias são um exemplo secularizado de que um novo caminho é possível: o caminho do reconhecimento das especificidades. Todavia, isso não basta, reconhecer o diferente e construir igualdade na diferença não é um trabalho frutífero para uma humanidade que segue longe dAquele que a criou para ser família e corpo. Sem Deus, as diferenças tratarão de estabelecer as vaidades, pois o coração do homem é depravado e assim o sonho da justiça sucumbirá ante o egoísmo.


Só em Cristo as especificidades tomam sentido de fato, pois se ajustam sem demérito ou mérito, pois redimidas, nascem em novo contexto, o contexto da interdependência, da santidade do corpo e do espírito, da liberdade da vida transformada onde cada salvo entende que não existe valor em si se não há valor no outro, pois todos em absoluto pecaram, mas quando unidos ao Cristo também todos usufruem cada um em sua particularidade, em sua trajetória, com seu dom, com seu papel a igualdade da multiforme graça de Deus.   

terça-feira, 27 de outubro de 2015

REFORMA PARA ONTEM: SOMENTE A GRAÇA

Estamos na semana da Reforma Protestante e até o dia 31 de Outubro estaremos publicando artigos em comemoração da data, então, não perca e confira!



A reforma foi um marco histórico que culminou na segunda maior cisão dentro do cristianismo e também, juntamente com outros fatores de cunho econômico-social, na mudança do mundo como era conhecido. Lutero e tantos outros reformadores legaram a cristandade um ávido desejo pela volta a simplicidade do evangelho, propuseram, cada um em sua reflexão e tradição, um retorno a fidelidade para com Deus e estabeleceram através de suas iniciativas o ímpeto da reforma permanente, o eterno retorno a comunhão com Deus, sem barreiras e sem medidas.

Por esse motivo, e por tantos outros, a reforma precisa ser lembrada, mas não apenas como uma data morta e sim com o interesse de “verificar a identidade, o significado e a relevância da mesma para nossos dias, com o propósito de receber inspiração da fé ali vivenciada” (GILLIS, 2014), Assim lembrar da reforma é também refletir sobre ela e refleti-la no nosso espírito evangélico contemporâneo, o que precisamos fazer para ontem.

Para refletir sobre ela e também refleti-la, talvez o melhor caminho seja relembrar sobre os seus pontos teológicos identitários, os chamados 5 solas, e para começar trataremos da proposição “somente a graça”, que de grosso modo pode ser denominada como a doutrina que “ensina que o pecador é justificado unicamente pela graça de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo. Neste caso, a graça é o favor divino que o homem não merece, mas que, em sua soberania e bondade, Deus quer dar-lhe. A salvação é obra de Deus, não do homem.” ( Nuñes, 2005)

Tal doutrina, como sustentada pelos protestantes, foi um soco no estômago da teologia católica, que com sua política de indulgências e boas obras primava e defendia a participação do crente na salvação a partir de seus próprios méritos. Felizmente, o engano foi apontado e o entendimento da salvação bíblica resgatada, assim, mais uma vez, professava-se que “  a salvação (perdão, aceitação diante de Deus e santificação) é concedida gratuitamente por Deus àqueles que confiam em Jesus como seu salvador.” (GILLIS, 2014) e que o homem “está morto em seus delitos e pecados. E que somente se dispõe a receber o favor de Deus. […] Aqui não há lugar para a autossuficiência, nem para a arrogância do que pretende salvar-se a si mesmo e a outros, mesmo por meio de esforços que aos olhos da sociedade parecem mui nobres e heroicos. ” ( Nuñes, 2005)

Este é um grande legado. Um grande alento e um grande descanso, inclusive para os dias de hoje, que de modo diferente daquele vívido dentro da religiosidade medieval, enaltece o ser humano como autossuficiente, potencialmente capaz de estabelecer através da própria força o bem estar, a qualidade de vida e porque não a própria salvação, seja ela entendida como eterna ou não; ambas as perspectivas compartilhando da mesma substância na essência: a crença do homem como agente livre na construção de sua própria felicidade tanto no agora, quanto no por vir, perspectiva fadada ao fracasso, como demonstra os eventos históricos que nos marcam com sofrimento e dor.

A salvação pela graça, contudo, nos expõe ao perdão e nos livra do peso dos legalismos e dos obstáculos que tentam atrasar-nos na caminhada para o céu, na caminhada para as bem aventuranças. A salvação pela graça é a resposta para o arredio sujeito de um mundo que mais parece uma selva. A salvação pela graça é a doutrina que nos ensina que nada além obra do próprio Deus é necessária, nada além de um ato divino capaz de deflagrar sobre nós a conscientização da nossa pequenez e inferioridade. A salvação pela graça é a morte do nosso “Eu sou” e o nascimento da declaração do “Somente Tu és Senhor”.

Assim, neste tempo de orgulho, de independência, mas também de cadeias, falsa piedade, ascetismo inútil e rigorosos cabrestos, onde parece que Cristo não é suficiente e a sua graça é apenas um apetrecho a mais para a salvação é nosso dever lembrar que “A salvação sempre foi, é e sempre será pela graça. […] Cristo é o dom inefável de Deus ao mundo. O homem pode salvar-se em Cristo, não à parte de Cristo.” ( Nuñes, 2005) pois é “Pela graça que sois salvos, mediante a fé; e isto [a salvação] não vem de vós, é dom de Deus; não [vem] de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9) , dessa maneira, “Se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça” (Rm 11.6).

BIBLIOGRAFIA
NUNES, Emílio Antonio. Sola Gratia, Solo Christus, Sola Fide e Sola Scriptura, 2005. Disponível em: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/296/sola-gratia-solo-christus-sola-fide-e-sola-scriptura

GILLES, Christian. A Reforma Protestante em quatro doutrinas, 2015. Disponível em: http://www.ultimato.com.br/conteudo/a-reforma-protestante-em-quatro-doutrinas





sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A Arte: um culto ao não descartável

Hoje, a sociedade é uma sociedade de transações, das quais a que mais se destaca é as transações baseadas no consumo, que, por sua vez, obedecem a uma lógica específica atrelada a realidade do capitalismo pós-moderno que tem na identidade comercializável um dos seus fundamentos. Assim, na atualidade, muito mais do que uma mercadoria fruto do trabalho, se vende subjetividades que devem constantemente sofrer atualizações de acordo com os ditames do mercado. 




Nas palavras do sociólogo Bauman, 
Na sociedade de consumidores, ninguém pode se tornar sujeito sem se tornar antes mercadoria, e ninguém pode manter segura a sua subjetividade sem reanimar, ressuscitar, e recarregar de maneira perpétua as capacidades esperadas e exigidas de uma mercadoria vendável. A subjetividade do sujeito [...] concentra-se em um esforço sem fim para ela própria se tornar, e permanecer uma mercadoria vendável. A característica mais proeminente da sociedade de consumidores [...] é a transformação dos consumidores em mercadorias, ou antes sua dissolução no mar de mercadorias.

Neste panorama, vivemos as coisas como se essas fossem imateriais, dotamos-nas  de um tom monótono e cinzento, as deixamos flutuar  com igual gravidade na constante corrente do dinheiro e nos posicionamos no engajamento incessante da atividade de consumo, no movimento ilusório de saída da invisibilidade que permeia o que é consumido. Em síntese, vivemos uma vida do descartável. 

A arte, no entanto, quando de fato arte, se propõe a estar além da vida descartável, pois apesar de se apresentar como atividade dinâmica está ligada a permanência do humano e a crítica da reificação ( do entendimento do humano como coisa, produto) ela deve se configurar, como apontado pelo sociólogo Adorno, em algo que produz sentido histórico, que cria uma relação diferente com a sociedade. 

A relação da arte com a sociedade deve negar o princípio do descartável e da pasteurização, que o pseudo-diferente coloca nos anúncios do "novo". A arte tem em sua feitura um compromisso para além do capital que manipula os aspectos da vida, ou seja, em sua forma ela estrutura uma nova proposta que denuncia o estado presente e aponta, através do protesto, para uma realidade de desalienação em um enaltecimento estético da possibilidade de um futuro para além da violência da desumanidade. 

A arte é  desconfortável para aquele que se senta afim de degustar mais um produto de consumo que é vendido como arte e que se perderá após algum tempo, sendo substituído por outro artefato do consumo tão pobre quanto. A arte, portanto, é um culto ao não descartável, ela é o enaltecimento, em sua própria autonomia, da liberdade criativa não enformada pela lógica instrumental que descamba a própria vida em objeto de consumo.

E assim como a arte deveria ser ( Adorno, apesar de apontar isso, é pessimista em sua realização e coloca tal manifestação plena como possível após uma revolução social) também deveria ser o culto cristão. Culto e Arte estão de mãos dadas naquilo que a Bíblia coloca como a renovação do entendimento. No culto, assim como na arte, não deve haver espaço para o descartável, apenas para o dinâmico, não para o entretenimento, mas para o deleite sério de se estar diante de algo que em sua manifestação aponta, através da denúncia de uma certa condição, para algo além daquilo que se vive na desumana existência do homem.   

BIBLIOGRAFIA 

BAUMAN, Zigman. Vida para o Consumo. Rio de Janeiro: Zahar, 2008 

HORKHEIMER, Max & ADORNO, Theodor. A indústria cultural: o iluminismo como mistificação de massas. Pp. 169 a 214. In: LIMA, Luiz Costa. Teoria da cultura de massa. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 364p.

AGUIAR, Wisley Francisco. Adorno e a Dimensão Social da Arte. Disponível in: http://www.urutagua.uem.br/015/15aguiar.htm 

DANNER, Fernando. A Dimensão Estética em Adorno. Disponível in: http://sites.unifra.br/Portals/1/ARTIGOS/edicao3/A_dimens%C3%86o_est%E2%80%9Atica_em_Theodor_W._Adorno_revisado.pdf
 

terça-feira, 19 de maio de 2015

O Fantástico Espetáculo do Entretenimento Religioso: A idiotização da vida cristã



Como nosso título bem fala, dentro das nossas igrejas vivemos um espetáculo de entretenimento religioso, uma espécie de programa de auditório, recheado de músicas antropocêntricas, "manifestações mágicas" e momentos de apelação emocional. Há lágrimas, gritos, palavras de adoração, mas devoção sincera é rara nestes aspectos. 

Infelizmente, o entretenimento religioso tem uma consequência séria: a idiotização da vida cristã. Isso mesmo, aos poucos, envoltos na parafernália anti-litúrgica, que também é liturgia, nos tornamos cada vez mais idiotas, alienados das verdades religiosas e sem perceber mais próximos da conduta mundana com o acréscimo da hipocrisia, que nos recheia de proibições e regulações as quais definem uma linha sólida entre o profano e o sagrado, contudo operando a profanação do sacro de uma maneira blasfema. 

O culto pós-moderno na verdade é um anti-culto ao Deus verdadeiro e um ato profanador dos espaços de adoração. Todo o momento estamos sendo envolvidos por experiências não reflexivas que destinam nossa vontade a escravidão e aos vínculos inconscientemente ou conscientemente embasados em lógicas de mercado, assim, sorrateiramente, dentro da comunidade de fé se começa a valer pelo que tem, pela posição que ocupa dentro do show business cristão, além disso e ainda mais grave o evangelho não mais se insere no tripé da dádiva ( dar, receber, retribuir) mas na concepção mercadológica de troca, onde o doar segue necessariamente um receber equivalente. 




A vida cristã embasada neste culto pós-moderno cria raízes eletistas baseadas na força econômica e no status social de seus membros, direta ou indiretamente o sucesso nestes aspectos se torna sinal de comunhão com Deus e assim os valores mundanos pseudo-condenados transformam-se em valores do reino e por fim a profanação dos espaços de adoração se completa, tornando aquele que deveria ser parte de uma comunidade, um indivíduo sem vínculos, um cliente da própria religião na qual busca um meio de sanar suas angústias, verdadeiramente um  paradoxal cristão anticristão.

A única maneira de se fujir deste novo arquétipo e do paradigma que o compõe é olhar para a teologia bíblica do culto, percebendo alguns elementos importantes para o resgate do verdadeiro culto, oposto aquele que chamamos de entretenimento religioso.

Primeiro, o culto deve ser racional, um sacrifício do nosso eu, para a experiência da renovação da mente e comprovação da boa, perfeita e agradável vontade de Deus, que nos leva aos padrões do Reino e não do mundo .Devemos lembrar que somos um corpo e como corpo cada um tem uma função e todos juntos adoramos ao nosso Redentor e Criador. A união fraterna dos crentes em Cristo é mais do que uma multidão congregada, é uma articulação em prol do serviço e das boas obras desde a eternidade predestinadas para os que responderiam com fé. 

Segundo, o culto deve ser centrado em Deus, não vamos para igreja receber, mas doar e nesta doação recebemos não o que desejamos ou precisamos, mas aquilo que precisamos retribuir, pois o que nos foi dado de graça assim também devemos dar. O culto centra-se em Deus mas estende-se na sacralização de todos os espaços da vida, na construção de pontes entre indivíduos que revelem  a grandiosidade da justiça e do amor de Deus, o testemunho do culto se revela na práxis da pura religião, o amor em ação, aos desesperados e vulneráveis tanto em quesitos materiais quanto espirituais, a verdadeira santidade, o envolvimento remidor.

Por fim, o verdadeiro culto é dinâmico, constante e pedagógico, ele ensina o conhecimento de Deus para que o povo santo não se perca e o destina para sua missão como sacerdócio santo, ao contrário do entretenimento religioso que coloca seu ouvinte em posição confortável, o verdadeiro culto angustia aquele que dele participa e o impele a rogar ao Senhor "faça-me teu trabalhador", dessa maneira, o verdadeiro culto não se constitui como aquele onde nos é apresentado uma rotina cristã estática, mas como aquele que nos apresenta uma ordem: vai, prega, faz discípulos, batiza e transforma o mundo!



  

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Existe uma Fronteira para a Graça de Deus?




"A Graça abunda em filmes, livros, romances e música contemporâneos. Se Deus não está no redemoinho, talvez esteja num filme de Woody Allen ou num show de Bruce Springsteen. A maior parte das pessoas compreende representações visuais e símbolos com mais facilidade do que a doutrina e o dogma."
(Brennan Manning, em O Evangelho Maltrapilho)


 O Evangelho Maltrapilho. Um livro que ainda não li, mas que já amo só pelo resultado da leitura em algumas pessoas próximas. Posso dizer sem medo de errar que ele é devastador e falo isso com ainda mais certeza depois de ler a citação acima, que por acaso apareceu hoje na minha linha do tempo do Facebook. 

O assunto do artigo não é o livro ou a citação, mas o tema que ela trata, o qual pode ser posto através da seguinte problemática: Existe fronteira para a graça de Deus? Na minha opinião sincera e humilde, não existe limites para ação de Deus, consequentemente não existe fronteiras para a graça de Deus, porque, ao meu ver, toda ação de Deus oferece ao homem um favor imerecido. 

Mas, se a graça não tem fronteiras, ela pode atuar em qualquer coisa? Exato. A iniciativa da graça é de Deus e ela se espalha prevenientemente no mundo da maneira que ele deseja convidando os pecadores para a santa comunhão e a obra de salvação. Nada pode escapar da ação do soberano amor de Deus e tudo pode servir de convite ao arrependimento, não importa o que isso seja. 

Talvez, você querido leitor se assuste com o que vai ler, mas o fato é que a embalagem de um cigarro, uma visita ao prostíbulo podem exercer sobre a alma pecadora um puxão na consciência, podendo levá-lo para longe do pecado. Isso é mérito do cigarro que ele comprou ou do prostíbulo que visitou? Não,  o mérito é unicamente da graça de Deus que alcança ainda nos dias de hoje os lugares mais baixos da terra e pode assim convencer um pecador que ali não é o seu lugar.

Todavia, não precisamos descer as condições mais baixas da terra, podemos seguir a recomendação de Manning e ater a visão para os filmes, as músicas, as artes plásticas, os poemas e os livros de literatura que nos cercam, concluindo a partir daí que  todos os artefatos culturais podem manifestar a graça de Deus, seja na representação de valores que remontem aos valores do Reino, como é o caso do Senhor dos Anéis, de Nárnia ou do filme A Espera de um Milagre, seja de maneira mais direta remontando ao sagrado de maneira artística como o caso das pinturas, estátuas e ícones da iconoclastia cristã. 

Há também a música e esta é especial. Por vezes, poemas cantados por  desconhecedores de Cristo acabam por manifestar uma presença maior do que a música cristã contemporânea, assustadoramente comprometida com o inverso daquilo que é o espírito cristão e composta por pessoas que se dizem cristãs. Um exemplo de música secular que mais parece feita por um autor cristão é a canção Lisbon do Angra, que diz: 

Senhor, ilumine meu caminho 
Preencha estas mãos descuidadas e sem vida... 
Oh, os céus estão caindo,
 Os céus estão caindo,
 Oh, os céus estão caindo, os céus estão caindo

A letra e a canção foram compostas por um ateu e contam a história de um personagem, mas o que me chama atenção é que toda vez que escuto essa música, vejo graça de Deus nela, essa nunca foi a intenção do autor original e talvez ele nem saiba que pessoas vejam Deus em sua música, no entanto, a graça de Deus abunda nela e fala a multidões sobre orações e misericórdia, a música se tornou um hino do heavy metal e acabou por tocar corações e despertar curiosidades sobre Deus em algumas pessoas que conheço. 

Isso talvez seja isolado, mas mesmo que assim seja, ainda vale a menção porque Deus olhou para meia dúzia de pessoas e manifestou graça em algo do cotidiano delas, se isso não é amor, não sei mais o que seria. Poderíamos escrever um livro sobre isso e quem sabe eu não escreva um dia, todavia, por agora ficamos com uma pequeno pensamento para refletir, se a graça de Deus não tem nenhuma fronteira e chama prevenientemente todos de diversas maneiras, porque insistimos em dizer que há limites para a ação divina?

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Cristianismo & Consumismo




Isaías 55.2- Por que gastar dinheiro naquilo que não é pão e o seu trabalho árduo naquilo que não satisfaz? Escutem, escutem-me e comam o que é bom, e a alma de vocês se deliciará na mais fina refeição.

Provérbios 30. 15a- A sanguessuga tem duas filhas: Dá e Dá.

Eclesiastes 2. 10-11: Não me neguei nada que os meus olhos desejaram não me recusei a dar prazer algum ao meu coração. Na verdade, eu me alegrei em todo o meu coração, essa foi a recompensa do meu esforço. Contudo, quando avaliei tudo o que tanto me esforçara para realizar, percebi que tudo foi inútil, foi correr atrás do vento; não há qualquer proveito no que se faz debaixo do sol.

Eclesiastes 2. 26: Ao homem que o agrada, Deus recompensa com sabedoria, o conhecimento e felicidade Quanto ao pecador, Deus o encarrega de ajuntar e armazenar riquezas para entregá-las a quem o agrada. Isso também é inútil, é correr atrás do vento.


Não dá para falar em existência sem usufruto. A própria essência do ser, nos leva a tal condição. O ser humano é um ser de necessidades e desejos, ambas as caraterísticas nos levam ao estado do usufruto, que é motor para a sensação de completude e gozo, seja físico, social ou psicológico. E não há nada de errado nisso.

Mas, com o advento das revoluções industriais e burguesa e o estabelecimento do capitalismo como sistema econômico predominante, o consumismo surge no lugar do usufruto e por intermédio do capitalismo, como fala um filósofo chamado Giorgio Agamben, a esfera do consumo surge e tudo que é produzido, feito e vivido é colocado dentro dessa esfera e o uso destas coisas se torna duravelmente impossível, pois,
 “O consumo, mesmo no ato do seu exercício, sempre é já passado ou futuro e, como tal, não se pode dizer que exista naturalmente, mas apenas na memória ou na expectativa. Portanto, ele não pode ter sido a não ser no instante do seu desaparecimento." ( AGAMBEN, 2007, p 64).

O efêmero e o transitório se tornam o princípio que regem a existência, tal processo insere nossas vidas no que o sociólogo Bauman (2008) chama de sociedade de consumidores, onde nossas relações humanas seguem os mesmos padrões existentes entre consumidores e objetos de consumo, ou seja, primeiramente somos postos à vista ( à venda) e nosso fim é sermos consumidos, mas para que isso ocorra é necessário que possamos satisfazer o desejo de quem nos consome e o nosso preço final será devidamente proporcional a credibilidade de nossa capacidade de satisfação e a intensidade do desejo daquele que nos consome. Portanto, nos nossos dias, somos ao mesmo tempo promotores de mercadorias e as mercadorias que promovemos.

Na sociedade de consumidores, ainda nos diz Bauman, ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar mercadoria e ninguém pode se manter seguro, sem ressuscitar e carregar de maneira perpétua as capacidades esperadas e exigidas de uma mercadoria vendável. O próprio eu do sujeito e tudo que ele pode atingir, concentra-se num esforço sem fim para se tornar e permanecer uma mercadoria vendável. A característica mais proeminente da sociedade de consumidores – ainda que cuidadosamente disfarçada e encoberta- é a transformação dos consumidores em mercadorias, ou antes, sua dissolução no mar de mercadorias.

O objetivo dos consumidores e sua motivação estimuladora para se engajar na incessante atividade de consumo é sair da invisibilidade do mar de mercadorias, destacando-se da massa de objetos indistinguíveis. O que se quer com o consumismo, portanto, não é nada mais, nada menos, do que ser desejado e isto significa ser uma mercadoria atraente.

Aqui chegamos ao ponto crucial, capaz de fazer o trânsito entre sociologia e cristianismo: consumismo está ligado a vaidade e é talvez a face capitalista desse pecado, temperado com um quê de luxuria expresso no desejo erótico de ser desejado e ser objeto de consumo de outros, quiça de todos. Mas a profundidade da devassidão encontrada no consumismo não para por ai, pois no desejo pervertido está também a impossibilidade da duração, a exigência da perfeição e por fim o descompromisso com o próprio ser.

Em uma sociedade de consumistas não se espera que consumidores jurem lealdade aos objetos que são destinados ao seu consumo, o que nos remonta a ideia já exposta do filósofo Agamben e nos permite dizer que não somos viciados no ter, mas na capacidade do ter, na ação do ter, na fugaz sensação de poder ter. Algo que logo se acaba quando temos e percebemos que o que temos não é perfeito, o que faz com que nos movamos para a próxima compra em um ritmo frenético e incessante.

Mas como já dito, em um mundo de consumo, não apenas bens e serviços são produtos, mas também seres humanos e a estes as mesmas lógicas são aplicáveis, o que significa dizer que a deslealdade destinada aos objetos de consumo quando aplicadas ao contexto das relações humanas transformam o atar e desatar de vínculos em ações destituídas de moral significativa, o que garante isenção de responsabilidade das pessoas envolvidas na criação de relacionamentos bons e duradouros, os quais para existir sempre necessitam em suas receitas de empatia e auto sacrifício.

Portanto a questão é bastante simples, o consumismo, que é vaidade, também envolve em seu bojo a sede doentia por prazer desenfreado, ou seja, o hedonismo. A todo momento buscamos a felicidade e o gozo na falta, na nossa vaidade o que leva necessariamente ao afastamento de Deus e a produção de ídolos efêmeros e a idolatria do próprio ego, como também violência para com o próximo.

Na Bíblia encontramos bem clara a ideia motora do consumismo, que é o pecado, mas também encontramos a solução, que é um relacionamento sincero com Deus. Sabemos a partir do que é dito em Provérbios 30. 15 que não há limites para a ambição humana, que esta é insaciável, temos a certeza que mesmo que venhamos a conceder tudo aquilo que nosso egoísmo e ambição vier a desejar isso nada passará do que inutilidade, uma corrida atrás do vento, da qual não se tira proveito nenhum, como bem nos fala o discurso do sábio em Eclesiastes 2. 10-11, o que nos leva a concordar com Isaías no capítulo 55 e verso 2 de seu livro e fazer de sua pergunta uma afirmação: gastamos dinheiro naquilo que não é pão e gastamos nosso trabalho nas mais diversas coisas que verdadeiramente não nos trazem satisfação.

Qual seria a saída diante de um contexto aparentemente tão trágico? A própria Escritura nos dá a saída em diversas passagens, mas dentre muitas, gostaria de selecionar duas, iniciando a argumentação a partir do capítulo 55 de Isaías e do verso 1. Neste capítulo, encontramos um apelo e uma certeza de salvação, a figura do banquete é usada como metáfora para esta oportunidade, o verso 2, em sua primeira parte chama a atenção do povo para que este tome consciência de que vive sem prestar atenção no verdadeiro pão, ou seja, se importando com o que é efêmero; a segunda parte do verso revela que a mensagem de salvação é o pão, o que dá vida, o que é bom e importante, neste sentido, a aplicação não poderia ser outra, o remédio para a vaidade e o vazio de uma vida que gasta com o banal é a salvação oferecida por Deus, única condição que concede alegria plena, paz profunda e gozo eterno.

Se arrepender e abraçar a salvação de Deus nos eleva a outro nível de relacionamento que nos tira da lógica da sociedade de consumo e nos faz perceber que pessoas não são mercadorias, mas sujeitos que devemos amar e respeitar, nossos vínculos acabam por receber um novo sentido e começam a ser tecidos a partir dos padrões do vínculo salvífico que Deus teceu conosco, a durabilidade torna-se prioridade, o que insere novamente na equação o autosacrifício e a empatia. Para combater a lógica do consumismo e as suas raízes maléficas somos convidados a por em prática o princípio da graça, devemos amar a Deus acima de todas as coisas e amar o nosso próximo como nos amamos e isso é agradável aos olhos do Senhor.


Por fim, quando nossa consciência convertida inclina nosso ímpeto a vontade de Deus, Este nos garante a certeza e a concretização daquilo que os indivíduos imersos em um contexto de consumismo e vaidade tanto buscam de maneira errônea, Deus nos garante prazer, conhecimento, sabedoria e felicidade, pois a capacidade de apreciar tais coisas e de gozar a vida não está em nossas mãos, mas provém unicamente da graça de Deus.

Referências

AGAMBEN, Giorgio. Profanações. Rio de Janeiro: Boitempo, 2007
BAUMAN, Zigman. Vida para o Consumo. Rio de Janeiro: Zahar, 2008

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Palestra Por uma Fé Integral (vídeo)

Olá, paz e graça a todos! Hoje, trago para vocês a palestra do nosso primeiro encontro que teve como tema "Ação Social e Fé Cristã: Desafios de um Cristianismo Político". Espero que vocês gostem e se puderem compartilhar em suas redes sociais, agradeço.




terça-feira, 2 de setembro de 2014

Igreja: Agente da Esperança





E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.E em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos.E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum.E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister.E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração,
Atos 2:42-46

Em posts anteriores, tratamos dos desafios de uma fé integral em ação e das dimensões que esta fé detém. Aqui, falaremos um pouco sobre a agência responsável pelo exercício da fé, a igreja militante. Mas, cabe a pergunta, militante de quê?

O primeiro ponto a ser dito é que uma fé integral - base de um cristianismo político, ou seja, voltado a vida, a comunidade, as relações inter e intra coletividade de fé- é o ingrediente que move a igreja militante, o corpo de Cristo e que portanto a impulsiona para o futuro, pois ter fé é saber que se vive e se espera aquilo que ainda não pode ser visto por completo, desse modo, posso dizer: militamos pela esperança.

Afirmar que nossa bandeira é a esperança é declarar que somos partes de um Reino que já está presente e que devemos anunciar, anelando sua plenitude. Isso significa que não vivemos egoisticamente, mas nossa existência regenerada respira a verdade do senhorio do ressuscitado, que do futuro está vindo para estabelecer plena vida, justiça e misericórdia no bater do martelo da história.

Nosso comportamento só deve ter sentido se dentro do horizonte desta perspectiva escatológica. O fim dos tempos é premissa de nossa reflexão e através dele ganha sentido nossa luta, nossa compreensão. Vivemos por uma promessa, que nos chama para frente, mas não só isso, como também para fora de nossas paredes.

A Igreja é a comunidade de vanguarda do Reino de Deus, guiada pelo sopro do Espírito põe todas as suas faculdades em prol da repercussão multidimensional de uma mensagem, a salvação e o perdão dos pecados. A igreja é enviada, assim como Cristo foi enviado do Pai, para ser humana e santa, tendo a partir disto a possibilidade de ensinar, curar, libertar e proclamar, através da desalienação das consciências e vivificação das vidas desperdiçadas de tantos oprimidos que sofrem nos mais diversos grilhões em um cultivo satânico do desespero.

É papel da igreja portanto fomentar solidariedade, como bem nos fala atos, e isso pressupõe comunhão cristã em todos os seus âmbitos ( teocêntrico, cristocêntrica, pneumocêntrica bibliocêntrica, diacônica, social e cotidiana). A igreja como corpo do Cristo não faz acepção de pessoas, nem de parte dessas pessoas, antes propicia a elas um ambiente de transformação tornando possível a declaração: O Evangelho Todo, para o homem todo e todo homem”

A igreja então integra em seu ofício a proclamação do Evangelho do Reino, o Batismo, o Ensino e a integração em uma comunidade de fé, o despertamento dos fiéis a respostas de misericórdia as necessidades e a denúncia das estruturas iníquas da sociedade. Isso nos permite afirmar que a igreja tem como finalidade o mundo.

A igreja expressa sua natureza do corpo de Cristo quando é obediente no mundo e isso significa exercer um serviço concreto de missão. Uma igreja só é comunidade de Deus quando é comunidade para o mundo. O cristianismo deve servir ao mundo como um memorial da intervenção divina na história, deve servi-lo para que se transforme e se aproxime do seu Criador, para que assim se acrescente aqueles que serão salvos.

A igreja para o mundo é a igreja embaixadora do reino de Deus e isso se dá quando a comunidade dos santos acolhe a sociedade em seu horizonte de esperança, da realização plena de justiça, vida, humanidade, e sociabilidade, tudo isso dentro dos seus ofícios sacros.

A missão da igreja é contagiar os desesperados do mundo com a esperança, não aquela pregada em tantos meios, que é revestida de um futuro estático, ou seja, do amanhã como remédio do pessimismo atual, mas sim com a esperança que é esperançar, que comove e ferve a alma impelindo-a ao agir, porque a palavra é viva e ativa, libertadora e transformadora.

Somente um cristianismo pobre de seu conteúdo central pode se identificar com discursos proferidos por uma estrutura de desejos imersos na sociedade que oferecem como papel da religiosidade cristã o reacionarismo fundamentalista, o afrouxamento do liberalismo teológico ou/e os desvios mercadológicos, opressivos, apáticos, idólatras e sincréticos de uma fé cada vez mais midiática.

Um cristianismo verdadeiro é inconformado e renova-se no entendimento, abre-se para o trabalho da reconciliação- iniciada e consumada na cruz, aplicada no presente pelo Espírito Santo- do mundo com Deus, trazendo ao presente o futuro e não esperando no presente por ele. As esferas de atuação na sociedade, sejam quais forem, são os meios pelos quais devemos exteriorizar o Reino de Deus, nos fundamentos de uma ética que torne nossa convivência mais justa, mais humana, mais pacífica, reconhecendo mutuamente a dignidade e liberdade de todos sem exceção de direitos em nome de minorias ou maiorias opressoras.


A igreja e sua missão devem ser integrais, o que significa dizer perseverança na adoração, reflexão e ação, sem desvios ao misticismo alienante, ao pedantismo acadêmico ou ativismo sem sentido escatológico e evangelical. Concluímos portanto que a missão e a espiritualidade sadia da igreja de Cristo se constrói de maneira encarnada, concreta, participante, levando em consideração o conhecimento da palavra de Deus, do contexto, do discernimento, da intercessão e da intervenção na História, com uma mensagem ampla, que atinge a multidimensionalidade da criação, sendo ao mesmo tempo pública, política e pessoal.

Referências

CAVALCANTI, Robinson. Igreja Evangélica – identidade, unidade e serviço. Visçosa: Ultimato, 2013
MOLTMANN, Jurgen. Teologia da Esperança: estudo sobre os fundamentos e as consequências de uma escatologia cristã. São Paulo: Editora Teológica: Edições Loyola, 2005