terça-feira, 2 de setembro de 2014

Igreja: Agente da Esperança





E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.E em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos.E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum.E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister.E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração,
Atos 2:42-46

Em posts anteriores, tratamos dos desafios de uma fé integral em ação e das dimensões que esta fé detém. Aqui, falaremos um pouco sobre a agência responsável pelo exercício da fé, a igreja militante. Mas, cabe a pergunta, militante de quê?

O primeiro ponto a ser dito é que uma fé integral - base de um cristianismo político, ou seja, voltado a vida, a comunidade, as relações inter e intra coletividade de fé- é o ingrediente que move a igreja militante, o corpo de Cristo e que portanto a impulsiona para o futuro, pois ter fé é saber que se vive e se espera aquilo que ainda não pode ser visto por completo, desse modo, posso dizer: militamos pela esperança.

Afirmar que nossa bandeira é a esperança é declarar que somos partes de um Reino que já está presente e que devemos anunciar, anelando sua plenitude. Isso significa que não vivemos egoisticamente, mas nossa existência regenerada respira a verdade do senhorio do ressuscitado, que do futuro está vindo para estabelecer plena vida, justiça e misericórdia no bater do martelo da história.

Nosso comportamento só deve ter sentido se dentro do horizonte desta perspectiva escatológica. O fim dos tempos é premissa de nossa reflexão e através dele ganha sentido nossa luta, nossa compreensão. Vivemos por uma promessa, que nos chama para frente, mas não só isso, como também para fora de nossas paredes.

A Igreja é a comunidade de vanguarda do Reino de Deus, guiada pelo sopro do Espírito põe todas as suas faculdades em prol da repercussão multidimensional de uma mensagem, a salvação e o perdão dos pecados. A igreja é enviada, assim como Cristo foi enviado do Pai, para ser humana e santa, tendo a partir disto a possibilidade de ensinar, curar, libertar e proclamar, através da desalienação das consciências e vivificação das vidas desperdiçadas de tantos oprimidos que sofrem nos mais diversos grilhões em um cultivo satânico do desespero.

É papel da igreja portanto fomentar solidariedade, como bem nos fala atos, e isso pressupõe comunhão cristã em todos os seus âmbitos ( teocêntrico, cristocêntrica, pneumocêntrica bibliocêntrica, diacônica, social e cotidiana). A igreja como corpo do Cristo não faz acepção de pessoas, nem de parte dessas pessoas, antes propicia a elas um ambiente de transformação tornando possível a declaração: O Evangelho Todo, para o homem todo e todo homem”

A igreja então integra em seu ofício a proclamação do Evangelho do Reino, o Batismo, o Ensino e a integração em uma comunidade de fé, o despertamento dos fiéis a respostas de misericórdia as necessidades e a denúncia das estruturas iníquas da sociedade. Isso nos permite afirmar que a igreja tem como finalidade o mundo.

A igreja expressa sua natureza do corpo de Cristo quando é obediente no mundo e isso significa exercer um serviço concreto de missão. Uma igreja só é comunidade de Deus quando é comunidade para o mundo. O cristianismo deve servir ao mundo como um memorial da intervenção divina na história, deve servi-lo para que se transforme e se aproxime do seu Criador, para que assim se acrescente aqueles que serão salvos.

A igreja para o mundo é a igreja embaixadora do reino de Deus e isso se dá quando a comunidade dos santos acolhe a sociedade em seu horizonte de esperança, da realização plena de justiça, vida, humanidade, e sociabilidade, tudo isso dentro dos seus ofícios sacros.

A missão da igreja é contagiar os desesperados do mundo com a esperança, não aquela pregada em tantos meios, que é revestida de um futuro estático, ou seja, do amanhã como remédio do pessimismo atual, mas sim com a esperança que é esperançar, que comove e ferve a alma impelindo-a ao agir, porque a palavra é viva e ativa, libertadora e transformadora.

Somente um cristianismo pobre de seu conteúdo central pode se identificar com discursos proferidos por uma estrutura de desejos imersos na sociedade que oferecem como papel da religiosidade cristã o reacionarismo fundamentalista, o afrouxamento do liberalismo teológico ou/e os desvios mercadológicos, opressivos, apáticos, idólatras e sincréticos de uma fé cada vez mais midiática.

Um cristianismo verdadeiro é inconformado e renova-se no entendimento, abre-se para o trabalho da reconciliação- iniciada e consumada na cruz, aplicada no presente pelo Espírito Santo- do mundo com Deus, trazendo ao presente o futuro e não esperando no presente por ele. As esferas de atuação na sociedade, sejam quais forem, são os meios pelos quais devemos exteriorizar o Reino de Deus, nos fundamentos de uma ética que torne nossa convivência mais justa, mais humana, mais pacífica, reconhecendo mutuamente a dignidade e liberdade de todos sem exceção de direitos em nome de minorias ou maiorias opressoras.


A igreja e sua missão devem ser integrais, o que significa dizer perseverança na adoração, reflexão e ação, sem desvios ao misticismo alienante, ao pedantismo acadêmico ou ativismo sem sentido escatológico e evangelical. Concluímos portanto que a missão e a espiritualidade sadia da igreja de Cristo se constrói de maneira encarnada, concreta, participante, levando em consideração o conhecimento da palavra de Deus, do contexto, do discernimento, da intercessão e da intervenção na História, com uma mensagem ampla, que atinge a multidimensionalidade da criação, sendo ao mesmo tempo pública, política e pessoal.

Referências

CAVALCANTI, Robinson. Igreja Evangélica – identidade, unidade e serviço. Visçosa: Ultimato, 2013
MOLTMANN, Jurgen. Teologia da Esperança: estudo sobre os fundamentos e as consequências de uma escatologia cristã. São Paulo: Editora Teológica: Edições Loyola, 2005

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