terça-feira, 19 de agosto de 2014

Fé Cristã e suas Dimensões: Evangelismo, Comunitarismo e Assistencialismo





 Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade. 1 João 3.17


No primeiro post sobre o nosso encontro (saiba mais AQUI) tentei esboçar um pouco os desafios e o princípio da significância da fé ativa, da verdadeira fé cristã. Hoje, precisamos refletir em que dimensões o viver para o outro se manifesta na igreja e como se dá perfeitamente esta conjugação.

É necessário dizer que uma fé cristã engajada em ação social não se limita a apenas uma dimensão do labor cristão, mas se porta como uma confluência de atos, gestos e ditos, que agregam sob o sangue de Cristo a totalidade das pessoas remidas, desfrutantes de uma santificação processual, abrangente e aglutinadora.

Portanto, todo o pensar e trabalhar cristão deve ter em mente três esferas: (a) evangélica; (b) comunitária e (c) assistencial, uma fé cristã para ser de fato cristã deve ser integral, completa. É o que nos deixa claro o verso da 1 carta de João em destaque e a afirmação de Tiago em sua carta ao dizer Tu crês que há só um Deus? Fazes bem; também os demônios o creem e estremecem. ( tiago 2.19), a fé de um cristão não pode levá-lo apenas ao estado subjetivo de crente, pois isso não é fé, ela nos leva a um estado de consciência que vai além da palavra e de nossa língua, abrange nossos atos e torna nossa existência pautada na Verdade.

A fé cristã nos leva para além do individualismo doentio, do egoísmo e aqui encontramos a primeira dimensão, deveras a essencial. Ao sermos alcançados pela graça somos chamados a entregar o presente a outros, temos o mapa que leva ao Reino, somos embaixadores do paraíso, vocacionados a chamar outros à habitar uma cidade de bem aventuranças eternas. Aqui se inscreve o princípio do objetivo máximo do cristianismo: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura (Marcos 16.15).

Contudo, a dimensão evangélica da fé, se coerente com aquela apresentada na Bíblia, produz o chamado à comunidade e esta não é a homogenização das idiossincrasias, mas sua valorização mediante a conjugação do “eu” em “nós” na inserção do fiel no corpo de Cristo, ou seja, é o viver realmente, de maneira autêntica, em uma participação totalizante que define o ajuntamento comunitário. Somos diferentes, Deus sabe disso, mas precisamos um dos outros, a homogenização expressa por uma fé vivida na falsa imagem do “socialmente” é o coletivismo doentio que nos isola na solidão paradoxal da multidão solitária, mas a valorização da diferença e de sua necessidade na comunidade nos chama a solidariedade e ao serviço, como afirma o apóstolo: Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas, agora, Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis. E se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Agora, pois, há muitos membros, mas um corpo. E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não tenho necessidade de vós. 1 Coríntios 12. 16-21

Porém, a integralidade da fé não se resume aos seus âmbitos evangélico e comunitário, se isso ocorre, gera-se isolacionismo e apatia ante as dificuldades do mundo e consequentemente das pessoas. Existe uma terceira dimensão, aquela que assiste o outro, o não participante da comunidade de fé, a voz profética que clama contra a iniquidade estrutural do mundo, que não apenas ameaça a comunidade dos santos, mas também os que ainda não foram atingidos pela mensagem da graça. E isto não é um peso, muito menos um modo pelo qual alcançar a salvação, mas um produto, uma nova disposição ao amar e ao suportar o outro, verdadeiramente o exercício da solidariedade, como está escrito: Meus irmãos, não vos maravilheis, se o mundo vos aborrece. Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; quem não ama a seu irmão permanece na morte. Qualquer que aborrece a seu irmão é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida tem permanente nele a vida eterna. Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos. 

Bibliografia

ÁLVARO, Daniel. Los conceptos de “comunidad” y “sociedad” de Ferdinand Tönnies. Papeles del Ceic, Buenos Aires, v. 1, n. 52, p.2-22, mar. 2010. Disponível em: <http://www.identidadcolectiva.es/pdf/52.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2014.

LEWIS, C.s.. O Peso da Glória. São Paulo: Vida Nova, 1993.

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