E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.E em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos.E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum.E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister.E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração,
Atos 2:42-46
Em posts
anteriores, tratamos dos desafios de uma fé integral em ação e das
dimensões que esta fé detém. Aqui, falaremos um pouco sobre a
agência responsável pelo exercício da fé, a igreja militante.
Mas, cabe a pergunta, militante de quê?
O
primeiro ponto a ser dito é que uma fé integral - base de um
cristianismo político, ou seja, voltado a vida, a comunidade, as
relações inter e intra coletividade de fé- é o ingrediente que
move a igreja militante, o corpo de Cristo e que portanto a
impulsiona para o futuro, pois ter fé é saber que se vive e se
espera aquilo que ainda não pode ser visto por completo, desse modo,
posso dizer: militamos pela esperança.
Afirmar
que nossa bandeira é a esperança é declarar que somos partes de um
Reino que já está presente e que devemos anunciar, anelando sua
plenitude. Isso significa que não vivemos egoisticamente, mas nossa
existência regenerada respira a verdade do senhorio do ressuscitado,
que do futuro está vindo para estabelecer plena vida, justiça e
misericórdia no bater do martelo da história.
Nosso
comportamento só deve ter sentido se dentro do horizonte desta
perspectiva escatológica. O fim dos tempos é premissa de nossa
reflexão e através dele ganha sentido nossa luta, nossa
compreensão. Vivemos por uma promessa, que nos chama para frente,
mas não só isso, como também para fora de nossas paredes.
A Igreja
é a comunidade de vanguarda do Reino de Deus, guiada pelo sopro do
Espírito põe todas as suas faculdades em prol da repercussão
multidimensional de uma mensagem, a salvação e o perdão dos
pecados. A igreja é enviada, assim como Cristo foi enviado do Pai, para
ser humana e santa, tendo a partir disto a possibilidade de ensinar,
curar, libertar e proclamar, através da desalienação das
consciências e vivificação das vidas desperdiçadas de tantos
oprimidos que sofrem nos mais diversos grilhões em um cultivo
satânico do desespero.
É papel
da igreja portanto fomentar solidariedade, como bem nos fala atos, e
isso pressupõe comunhão cristã em todos os seus âmbitos (
teocêntrico, cristocêntrica, pneumocêntrica bibliocêntrica,
diacônica, social e cotidiana). A igreja como corpo do Cristo não
faz acepção de pessoas, nem de parte dessas pessoas, antes propicia
a elas um ambiente de transformação tornando possível a
declaração: O Evangelho Todo, para o homem todo e todo homem”
A igreja
então integra em seu ofício a proclamação do Evangelho do Reino,
o Batismo, o Ensino e a integração em uma comunidade de fé, o
despertamento dos fiéis a respostas de misericórdia as necessidades
e a denúncia das estruturas iníquas da sociedade. Isso nos permite
afirmar que a igreja tem como finalidade o mundo.
A igreja
expressa sua natureza do corpo de Cristo quando é obediente no mundo
e isso significa exercer um serviço concreto de missão. Uma igreja
só é comunidade de Deus quando é comunidade para o mundo. O
cristianismo deve servir ao mundo como um memorial da intervenção
divina na história, deve servi-lo para que se transforme e se
aproxime do seu Criador, para que assim se acrescente aqueles que
serão salvos.
A igreja para o mundo é a igreja embaixadora do reino de Deus e isso se dá quando a comunidade dos santos acolhe a sociedade em seu horizonte de esperança, da realização plena de justiça, vida, humanidade, e sociabilidade, tudo isso dentro dos seus ofícios sacros.
A missão
da igreja é contagiar os desesperados do mundo com a esperança, não
aquela pregada em tantos meios, que é revestida de um futuro
estático, ou seja, do amanhã como remédio do pessimismo atual, mas
sim com a esperança que é esperançar, que comove e ferve a alma
impelindo-a ao agir, porque a palavra é viva e ativa, libertadora e
transformadora.
Somente
um cristianismo pobre de seu conteúdo central pode se identificar
com discursos proferidos por uma estrutura de desejos imersos na
sociedade que oferecem como papel da religiosidade cristã o
reacionarismo fundamentalista, o afrouxamento do liberalismo
teológico ou/e os desvios mercadológicos, opressivos, apáticos,
idólatras e sincréticos de uma fé cada vez mais midiática.
Um
cristianismo verdadeiro é inconformado e renova-se no entendimento,
abre-se para o trabalho da reconciliação- iniciada e consumada na
cruz, aplicada no presente pelo Espírito Santo- do mundo com Deus,
trazendo ao presente o futuro e não esperando no presente por ele.
As esferas de atuação na sociedade, sejam quais forem, são os
meios pelos quais devemos exteriorizar o Reino de Deus, nos
fundamentos de uma ética que torne nossa convivência mais justa,
mais humana, mais pacífica, reconhecendo mutuamente a dignidade e
liberdade de todos sem exceção de direitos em nome de minorias ou
maiorias opressoras.
A igreja
e sua missão devem ser integrais, o que significa dizer perseverança
na adoração, reflexão e ação, sem desvios ao misticismo
alienante, ao pedantismo acadêmico ou ativismo sem sentido
escatológico e evangelical. Concluímos portanto que a missão e a
espiritualidade sadia da igreja de Cristo se constrói de maneira
encarnada, concreta, participante, levando em consideração o
conhecimento da palavra de Deus, do contexto, do discernimento, da
intercessão e da intervenção na História, com uma mensagem ampla,
que atinge a multidimensionalidade da criação, sendo ao mesmo tempo
pública, política e pessoal.
Referências
CAVALCANTI, Robinson. Igreja Evangélica – identidade, unidade e serviço. Visçosa: Ultimato, 2013
MOLTMANN, Jurgen. Teologia da Esperança: estudo sobre os fundamentos e as consequências de uma escatologia cristã. São Paulo: Editora Teológica: Edições Loyola, 2005
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