Não muito tempo atrás, li o famoso livro Celebração da Disciplina do autor Quaker Richard Foster, a obra foi bastante impactante no meio evangélico e logo se tornou um clássico devocional que inspirou diversos movimento, inclusive o Movimento de Convergência. Abaixo deixo minhas considerações, bastante pessoais, sobre o livro e desde já afirmo: vale a pena a leitura.
Celebração da
Disciplina do autor Quaker Richard Foster é um livro desafiador que
me apresentou em pouco mais de uma centena de páginas um apelo em
forma de manual para a construção de um relacionamento cristão
mais profundo.
Através
das disciplinas interiores ( meditação, oração, jejum e estudo);
das disciplinas exteriores ( simplicidade e solitude) e por fim das
disciplinas associadas (confissão, adoração, orientação e
celebração), Foster desenvolve um caminho fértil no qual o cristão
que se aventurar encontrará um meio para a graça de Deus onde não
há espaço para a doutrina da satisfação instantânea, o
materialismo e as futilidades que cercam nossa vida tão atrelada ao
consumo.
Costurando todas as disciplinas de uma maneira em que
fica bastante claro que todas servem umas as outras na
interdependência de uma devoção que não está ligada ao indivíduo
apenas, Foster atualiza o misticismo cristão e ao meu ver aponta
para o caminho necessário da instrumentalização da devoção
cristã: a comunidade, onde se deve viver o perfeito amor de Cristo e
o profundo deleite de um relacionamento profundo com o Pai.
Falando em disciplinas espirituais, Foster não cai no
legalismo, mas enaltece a liberdade; destacando a vida interior não
se deixa levar pelo individualismo religioso e na complexidade do seu
pensamento, traduzido em linguagem clara, consegue demonstrar que
mesmo a solitude serve para valorizar a comunhão. Convidando o seu
leitor a praticar com afinco as disciplinas, Foster despertou em mim
a vontade de mergulhar nos clássicos; utilizando destes gigantes
devocionais e teológicos, ele ensina que a receita para viver uma
vida de profunda comunhão se resume a um único desejo: suspirar por
Deus.
Em tom de conversa,
Foster despista o religiosismo e abraça a religiosidade sadia ao
falar que as disciplinas não têm valor nelas mesmas, que são
apenas um caminho onde encontraremos o guia. No seu cuidado, ele
afirma que o seu livro não trata de lei, mas de graça, não trata
de regras, mas de relacionamento. Em minha opinião, percepções
devocionais como a de Foster demonstram a diferença entre encontrar
a Deus no ascetismo consciente e cristão e perder o contato com Deus
no ascetismo inconsciente de quem acha que é cristão.
De todas as disciplinas interiores, a que mais me
impactou foi a meditação, pois em um período da história em que
pessoas desejam se ver vazias de pensamentos e que são vazias de
alma, Foster nos chama para, como nossos irmãos antecessores, um ato
de encheção do Espírito de Deus cujo o produto não será uma
espalhafatosa manifestação de poder, mas o ato de poder olhar a
Palavra de Deus e o mundo ao nosso redor com uma perspectiva graciosa
e de gratidão.
As disciplinas
exteriores como um todo me chamaram a atenção de maneira profunda
nos ensinam como viver com integridade com o outro (simplicidade);
como podemos estar
verdadeiramente presentes com as pessoas quando estamos com elas
( solitude); como viver
com os outros sem manipulação
(submissão); e como exercer o chamado diacônico da igreja sendo e
distribuindo bênçãos para outros ( serviço).
Faço aqui também
uma menção a prática da disciplina associada chamada “confissão”.
Sendo, de acordo com Foster, a disciplina da confissão um ato
libertador de nós mesmos, ela ressalta o entendimento da igreja como
comunidade terapêutica, um corpo que é cuidado e que também cuida.
Apesar da qualidade
do livro, Foster me incomodou em algumas passagens no que toca a
disciplina da oração, ao afirmar coisas como “a oração é o
meio pelo qual movemos o braço de Deus” ou coisas como “Estamos
cooperando com Deus para determinar o futuro! Certas coisas
acontecerão na história se orarmos corretamente. Devemos mudar o
mundo pela oração.” ou ainda quando aponta que ao intercedermos
não deveríamos dizer “faça-se tua vontade Pai”, a razão do
meu incômodo é que tais afirmações, talvez mal construídas,
podem dar margem ao teísmo aberto e também a confissão positiva,
comum ao liberalismo teológico e ao neopentecostalismo
respectivamente.
Enfim,
“Celebração da Disciplina” é um livro proveitoso e desafiador
que merece uma leitura séria de todos aqueles que tiverem
oportunidade de tê-lo, inclusive, no meu caso, já estou
reorganizando meus devocionais e começando a colocar em prática
certos preceitos apontados, além de estar em busca das referências
usadas pelo autor para que assim possa crescer na graça bebendo da
fonte de genuínos pensadores cristãos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário