terça-feira, 27 de outubro de 2015

REFORMA PARA ONTEM: SOMENTE A GRAÇA

Estamos na semana da Reforma Protestante e até o dia 31 de Outubro estaremos publicando artigos em comemoração da data, então, não perca e confira!



A reforma foi um marco histórico que culminou na segunda maior cisão dentro do cristianismo e também, juntamente com outros fatores de cunho econômico-social, na mudança do mundo como era conhecido. Lutero e tantos outros reformadores legaram a cristandade um ávido desejo pela volta a simplicidade do evangelho, propuseram, cada um em sua reflexão e tradição, um retorno a fidelidade para com Deus e estabeleceram através de suas iniciativas o ímpeto da reforma permanente, o eterno retorno a comunhão com Deus, sem barreiras e sem medidas.

Por esse motivo, e por tantos outros, a reforma precisa ser lembrada, mas não apenas como uma data morta e sim com o interesse de “verificar a identidade, o significado e a relevância da mesma para nossos dias, com o propósito de receber inspiração da fé ali vivenciada” (GILLIS, 2014), Assim lembrar da reforma é também refletir sobre ela e refleti-la no nosso espírito evangélico contemporâneo, o que precisamos fazer para ontem.

Para refletir sobre ela e também refleti-la, talvez o melhor caminho seja relembrar sobre os seus pontos teológicos identitários, os chamados 5 solas, e para começar trataremos da proposição “somente a graça”, que de grosso modo pode ser denominada como a doutrina que “ensina que o pecador é justificado unicamente pela graça de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo. Neste caso, a graça é o favor divino que o homem não merece, mas que, em sua soberania e bondade, Deus quer dar-lhe. A salvação é obra de Deus, não do homem.” ( Nuñes, 2005)

Tal doutrina, como sustentada pelos protestantes, foi um soco no estômago da teologia católica, que com sua política de indulgências e boas obras primava e defendia a participação do crente na salvação a partir de seus próprios méritos. Felizmente, o engano foi apontado e o entendimento da salvação bíblica resgatada, assim, mais uma vez, professava-se que “  a salvação (perdão, aceitação diante de Deus e santificação) é concedida gratuitamente por Deus àqueles que confiam em Jesus como seu salvador.” (GILLIS, 2014) e que o homem “está morto em seus delitos e pecados. E que somente se dispõe a receber o favor de Deus. […] Aqui não há lugar para a autossuficiência, nem para a arrogância do que pretende salvar-se a si mesmo e a outros, mesmo por meio de esforços que aos olhos da sociedade parecem mui nobres e heroicos. ” ( Nuñes, 2005)

Este é um grande legado. Um grande alento e um grande descanso, inclusive para os dias de hoje, que de modo diferente daquele vívido dentro da religiosidade medieval, enaltece o ser humano como autossuficiente, potencialmente capaz de estabelecer através da própria força o bem estar, a qualidade de vida e porque não a própria salvação, seja ela entendida como eterna ou não; ambas as perspectivas compartilhando da mesma substância na essência: a crença do homem como agente livre na construção de sua própria felicidade tanto no agora, quanto no por vir, perspectiva fadada ao fracasso, como demonstra os eventos históricos que nos marcam com sofrimento e dor.

A salvação pela graça, contudo, nos expõe ao perdão e nos livra do peso dos legalismos e dos obstáculos que tentam atrasar-nos na caminhada para o céu, na caminhada para as bem aventuranças. A salvação pela graça é a resposta para o arredio sujeito de um mundo que mais parece uma selva. A salvação pela graça é a doutrina que nos ensina que nada além obra do próprio Deus é necessária, nada além de um ato divino capaz de deflagrar sobre nós a conscientização da nossa pequenez e inferioridade. A salvação pela graça é a morte do nosso “Eu sou” e o nascimento da declaração do “Somente Tu és Senhor”.

Assim, neste tempo de orgulho, de independência, mas também de cadeias, falsa piedade, ascetismo inútil e rigorosos cabrestos, onde parece que Cristo não é suficiente e a sua graça é apenas um apetrecho a mais para a salvação é nosso dever lembrar que “A salvação sempre foi, é e sempre será pela graça. […] Cristo é o dom inefável de Deus ao mundo. O homem pode salvar-se em Cristo, não à parte de Cristo.” ( Nuñes, 2005) pois é “Pela graça que sois salvos, mediante a fé; e isto [a salvação] não vem de vós, é dom de Deus; não [vem] de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9) , dessa maneira, “Se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça” (Rm 11.6).

BIBLIOGRAFIA
NUNES, Emílio Antonio. Sola Gratia, Solo Christus, Sola Fide e Sola Scriptura, 2005. Disponível em: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/296/sola-gratia-solo-christus-sola-fide-e-sola-scriptura

GILLES, Christian. A Reforma Protestante em quatro doutrinas, 2015. Disponível em: http://www.ultimato.com.br/conteudo/a-reforma-protestante-em-quatro-doutrinas





Nenhum comentário:

Postar um comentário