terça-feira, 29 de março de 2016

A Encenação Cínica da Teatral Democracia Brasileira: uma opinião cristã




Eu apreendo com Deus que a justiça não deve ser seletiva em seu trato com as pessoas. Teologicamente TODOS são culpados até encontrarem Cristo. E eu aprendi com o estudo da política que o espírito democrático é o espírito da igualdade jurídica e humana, assim TODOS são inocentes até que se prove o contrário e não ALGUNS são culpados até que se prove o contrário,  mas como muitos eventos históricos têm demostrado isso não passa de um ideal que raramente se concretizou, geralmente o que se vê é cinismo cênico, o teatro da democracia.
Atualmente no Brasil, vivemos uma dessas encenações de democracia, uma performance cênica que ilude e se constrói como ilusão para si mesmo e para aqueles que se conformam com o que é dito e não procuram o que realmente está por trás do falado e propagado ( ou seria propaganizado?) . Se algo eu tenho aprendido com a sociologia é que discursos e ações escondem sentidos para além daquilo que expressam nas suas formas aparentes.
Ver a seletividade midiática, uma propaganda da cênica performance, e a construção de uma política antidemocrática deveria ser combustível para indignação de um cristão, mas para a maioria é motivo de júbilo, o que é uma pena. Parcialidade e contínuas demonstrações de manipulação das estruturas democráticas em prol da manutenção da permanência em posições de autoridade de figuras públicas possuidoras de moral e conduta discutíveis não deveriam passar imperceptíveis, todavia a falta de um aflorado senso crítico-político nos leva a aplaudir a impiedade, assim se cumpre novamente as palavras de Deus e nós perecemos por falta de conhecimento, neste caso como atores irrelevantes na discussão de uma política que se não pode  mais ser de todo íntegra, ao menos seja de nossa parte.
Denunciar atos de corrupção de uns e comemorar as discutíveis ações orquestradas  em relação a estes enquanto não se clama e  cobra o mesmo afinco jurídico ou cobertura midiática em relação a casos abarrotados de provas ligados a outras personalidades políticas é no mínimo ser ingênuo, ao ponto de ser manipulado, e no máximo partilhar conscientemente da hipocrisia e corrupção que estes autoproclamados paladinos da integridade tanto professam combater em mais um de seus gestos cênicos de cinismo meticuloso.
Parece que a igreja esquece que redimir o mundo perpassa por algo além da esfera individual, da vida privada, redimir é também a construção de um viés analítico capaz de entender os desdobramentos da injustiça que domina os sistemas humanos. Redimir o mundo é profetismo; é ampliar as visões sendo capaz de bradar e agir de maneira a apontar para além da ilusão do discurso sustentado por quem sempre se beneficiou da miséria da maioria para sustentar um padrão de vida promíscuo socialmente.
Redimir o mundo é também entender que o mundo é pura aparência, mesmo entre quem diz ser bom, porque no fim das contas não há justo sequer e todos definitivamente necessitam de transformação. Redimir no sentido cristão perpassa pela crítica justa. Assim, se é verdade que legado político nenhum santifica um presente que pode vir a ser revelado como corrupto, também é verdade que nada está acontecendo e nem sendo feito desta maneira por acaso e quem hoje condena e se chama de puro está mais sujo do que o mal lavado falado.
O que me parece ser a mensagem por trás dessa peça dramática? Simples. Os opressores temem, essa é a verdade.
A única coisa que tenho por certo é aquilo que sempre tive: a justiça de Deus, a compaixão divina e a igreja andam juntas e esta última deve demonstrar o impacto das primeiras. Neste sentido, afirmo que  há urgência em um tomar uma postura de discernimento, que não se trate como uma defesa religiosa de uma pessoa ou outra, mas se trate como uma defesa da transparência que deveria estar ligada a um sistema que nitidamente está envolto em sujeira e egoismo e que privilegia aqueles que estão desde muito tempo oprimindo o povo.

Enfim, ao meu ver, neste espetáculo vergonhoso é papel da igreja ser luz e sal do mundo e isso requer mais do que panelaços ou críticas rasas a um partido ou atores políticos particulares, envolve articulação com a sociedade civil e movimentos sociais que tenham como finalidade a melhoria da vida dos injustiçados, do povo, que é quem tem perdido nesta história toda. 

Para nós, cristãos, é de suma importância uma crítica capaz de entender que a injustiça está para além das bandeiras e que sustentar a justiça e o espírito democrático é olhar clinicamente para as estruturas de poder e seu uso na manutenção da realidade de pobreza através de ilusões e alienações e saber que elas devem ser mudadas; sustentar a justiça e o espírito democrático é professar a universalidade da dignidade humana por ser imagem de Deus e condenar toda sorte de exploração desumanizante, inclusive aquela que se esconde na cênica da falsa democracia.

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