Estamos na semana da Reforma Protestante e até o dia 31 de Outubro estaremos publicando artigos em comemoração da data, então, não perca e confira!
A reforma foi um
marco histórico que culminou na segunda maior cisão dentro do
cristianismo e também, juntamente com outros fatores de cunho
econômico-social, na mudança do mundo como era conhecido. Lutero e
tantos outros reformadores legaram a cristandade um ávido desejo
pela volta a simplicidade do evangelho, propuseram, cada um em sua
reflexão e tradição, um retorno a fidelidade para com Deus e
estabeleceram através de suas iniciativas o ímpeto da reforma
permanente, o eterno retorno a comunhão com Deus, sem barreiras e
sem medidas.
Por
esse motivo, e por tantos outros, a reforma precisa ser lembrada, mas
não apenas como uma data morta e sim com o interesse de “verificar
a identidade, o significado e a relevância da mesma para nossos
dias, com o propósito de receber inspiração da fé ali vivenciada”
(GILLIS,
2014), Assim lembrar da reforma é também refletir sobre ela e
refleti-la no nosso espírito evangélico contemporâneo, o que
precisamos fazer para ontem.
Para
refletir sobre ela e também refleti-la, talvez o melhor caminho seja
relembrar sobre os seus pontos teológicos identitários, os chamados
5 solas, e para começar trataremos da proposição “somente a
graça”, que de grosso modo pode ser denominada como a doutrina que
“ensina
que o pecador é justificado unicamente pela graça de Deus, mediante
a fé em Jesus Cristo. Neste caso, a graça é o favor divino que o
homem não merece, mas que, em sua soberania e bondade, Deus quer
dar-lhe. A salvação é obra de Deus, não do homem.” ( Nuñes,
2005)
Tal
doutrina, como sustentada pelos protestantes, foi um soco no estômago
da teologia católica, que com sua política de indulgências e boas
obras primava e defendia a participação do crente na salvação a
partir de seus próprios méritos. Felizmente, o engano foi apontado
e o entendimento da salvação bíblica resgatada, assim, mais uma
vez, professava-se que “ a salvação (perdão, aceitação
diante de Deus e santificação) é concedida gratuitamente por Deus
àqueles que confiam em Jesus como seu salvador.” (GILLIS,
2014) e
que o homem “está morto em seus delitos e pecados. E
que
somente
se dispõe a receber o favor de Deus. […] Aqui não há lugar para
a autossuficiência, nem para a arrogância do que pretende salvar-se
a si mesmo e a outros, mesmo por meio de esforços que aos olhos da
sociedade parecem mui nobres e heroicos. ” ( Nuñes, 2005)
Este
é um grande legado. Um grande alento e um grande descanso, inclusive
para os dias de hoje, que de modo diferente daquele vívido dentro da
religiosidade medieval, enaltece o ser humano como autossuficiente,
potencialmente capaz de estabelecer através da própria força o bem
estar, a qualidade de vida e porque não a própria salvação, seja
ela entendida como eterna ou não; ambas as perspectivas
compartilhando da mesma substância na essência: a crença do homem
como agente livre na construção de sua própria felicidade tanto no
agora, quanto no por vir, perspectiva fadada ao fracasso, como
demonstra os eventos históricos que nos marcam com sofrimento e dor.
A
salvação pela graça, contudo, nos expõe ao perdão e nos livra do
peso dos legalismos e dos obstáculos que tentam atrasar-nos na
caminhada para o céu, na caminhada para as bem aventuranças. A
salvação pela graça é a resposta para o arredio sujeito de um
mundo que mais parece uma selva. A salvação pela graça é a
doutrina que nos ensina que nada além obra
do próprio Deus é necessária, nada além de um ato divino capaz de
deflagrar sobre nós a conscientização da nossa pequenez e
inferioridade. A salvação pela graça é a morte do nosso “Eu
sou” e o nascimento da declaração do “Somente Tu és Senhor”.
Assim,
neste
tempo de orgulho, de independência, mas também de cadeias, falsa
piedade, ascetismo
inútil
e rigorosos cabrestos, onde parece que Cristo não é suficiente e a
sua graça é apenas um apetrecho a mais para a salvação é nosso
dever lembrar que “A salvação sempre foi, é e sempre será
pela graça. […] Cristo é o dom inefável de Deus ao mundo. O
homem pode salvar-se em Cristo, não à parte de Cristo.”
( Nuñes, 2005) pois
é “Pela graça que sois salvos, mediante a fé; e isto [a
salvação] não vem de vós, é dom de Deus; não [vem] de obras,
para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9) , dessa maneira, “Se é
pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não
é graça” (Rm 11.6).
BIBLIOGRAFIA
NUNES,
Emílio
Antonio. Sola
Gratia, Solo Christus, Sola Fide e Sola Scriptura,
2005. Disponível em:
http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/296/sola-gratia-solo-christus-sola-fide-e-sola-scriptura
GILLES,
Christian.
A
Reforma Protestante em quatro doutrinas, 2015.
Disponível em:
http://www.ultimato.com.br/conteudo/a-reforma-protestante-em-quatro-doutrinas
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